O planejamento estratégico de produtos digitais é invisível, tanto para os clientes finais quanto para as equipes de criação, manutenção, atualização, suporte. Um bom motivo para os gestores não lhe dedicarem muita atenção.

Invisível, o planejamento tem funções estruturais, como:

Garantir a realização dos processos necessários para que o produto alcance seus objetivos e satisfaça seus clientes. Quanto mais altos os investimentos e as expectativas sobre resultados, maiores os investimentos em processos que garantam seu retorno.

O levantamento e a análise de informações geram material crítico que fundamenta as atividades e ajuda a garantir sua assertividade.

Disseminar internamente requisitos e decisões, mesmo às equipes não diretamente envolvidas com o canal, para sua legitimação. Os produtos do planejamento disseminam as mudanças culturais internas necessárias à capilaridade dos canais online ao dia-a-dia da organização.

Evitar retrabalho e custos duplicados, caso os canais não atendam aos seus objetivos (o que pode levar até à elaboração de um produto inteiramente novo). Entre os aspectos levantados no planejamento está a conceituação do produto, que explicita as referências para a inserção comercial e editorial, bem como para os relacionamentos necessários com o público e os parceiros comerciais.

A conceituação visa aos enfoques prioritários do projeto e às ações necessárias para evidenciá-los.

O gerente de um departamento recebe a incumbência de redesenhar um website institucional com a implementação de uma ferramenta de gerenciamento de conteúdo, para que alguns colaboradores possam atualizá-lo facilmente. Depois de algum tempo e de despesas razoáveis, o site é lançado, mas quase não é atualizado e logo perde seu público.

Quando a cultura e os processos internos não mudam, o site institucional permanece um apêndice, independente dos fluxos de trabalho e de relacionamento com clientes, fornecedores, parceiros, para os quais foi realizado.

Prevenir imprevistos que comprometam o resultado do projeto. E controlar a qualidade dos processos e resultados. A antecipação de riscos permite neutralizá-los, ou atenuar suas consequências. O entendimento de que o projeto está sujeito a eventos não programados que atrapalham ou comprometem seu resultado flexibiliza mais facilmente os dados do próprio planejamento, como o cronograma e o orçamento, facilitando sua revisão e atualização.

O controle da qualidade aumenta as chances de satisfação tanto dos stakeholders quanto dos usuários finais com o produto digital projetado.

Definir fatores de sucesso ou fracasso a considerar em projetos semelhantes. Caso a organização precise realizar novos projetos da mesma natureza com alguma frequência, o registro do planejamento serve como referência de aplicação de melhores e piores práticas.

Dimensionamento adequado

Além de não perceberem objetivamente os benefícios do planejamento de mídias digitais, especialmente dos canais institucionais, muitos gestores reagem a este processo porque demanda investimentos financeiros e de tempo que oneram e alongam a realização.

Planejamentos com levantamentos e análises demasiadamente longos são mais prejudiciais do que úteis à obtenção de bons resultados.

O planejamento precisa ser dimensionado para cada projeto – não adianta simplificá-lo porque os stakeholders não entendem sua importância. Na etapa inicial, o product owner dimensiona o planejamento com a equipe, examina o retorno que promove, os riscos da sua não-realização e descreve os sprints necessários. Se o projeto mostrar situações complexas (relacionamentos automatizados entre canais, uso e integração de tecnologias, veiculação de diversos formatos e bancos de dados, por exemplo), precisará de pesquisas e análises com metodologias adequadas e consolidadas.

Mas o planejamento excessivo também pode não ser eficiente, especialmente se são esperadas muitas mudanças e revisões de resultados. Nesse caso, é melhor optar por um planejamento dinâmico, em que o projeto é segmentado em micro-projetos, com produtos incrementais, e processos e percepções resilientes às experiências do usuário em cada etapa. Nesse caso, o produto evolui aos poucos e permanentemente, não fica condicionado a resultados estáticos e pré-definidos.

O resultado final, seus objetivos e objetivos, é sempre a referência norteadora do planejamento, que procura apontar o menor (e mais rápido, mais barato) caminho para obtê-lo. Em revisão contínua.

Texto dedicado a David W. Coimbra, que sugeriu a pauta (Atualizado em 8.4.2017)

 

Ver também

Planejamento versus emergência, Frederick van Amstel (Usabilidoido, acesso em 8.4.2017)