Há diversos métodos de análise dos resultados de pesquisas de usuários de produtos digitais, que correspondem aos tipos de pesquisas e combinações entre métodos. O preparo dos dados e informações coletados varia para cada um, e facilita a visualização para estabelecer relacionamentos úteis à criação de requisitos e ao desenvolvimento dos produtos.

Muitas vezes, antes de começar uma pesquisa de usuários, prevemos o método de coleta de informações junto com o formato de saída dos dados. Às vezes, adotamos métodos com formatos de saída já definidos, como card sorting, testes de usabilidade, priorização de segmentos do público-alvo. E quando realizamos pesquisas que incluem diferentes métodos e fontes para a coleta de informações, é preciso preparar os dados antes de analisá-los, para que retornem resultados úteis.

Os processos de preparo dos dados coletados nas pesquisas de usuários incluem:

Organização dos dados

Pesquisas de usuários geram dados em diversos formatos, digitais ou não, como arquivos de áudio e vídeo, planilhas, respostas de questionários, anotações soltas (observações de usos e comportamentos, posts de blogs, de redes sociais, dados estatísticas), fotos de pessoas e lugares, imagens da internet, recortes de publicações, peças de publicidade impressa e digital, capturas de telas, diagramas de processos, esboços de layout, sugestões de funcionalidades.

Durante a organização inicial desses dados é feita uma limpeza no conjunto, com o descarte dos que não são importantes para os objetivos do produto, como questionários incompletos, produtos de processos que não seguiram recomendações, entrevistas com usuários não representativos do público-alvo. Pode-se também descartar rabiscos incompreensíveis, declarações inconsistentes, respostas ambíguas ou repetidas (mantendo uma versão). E atribuir códigos e numerações para respostas anotadas fora do espaço de perguntas de questionários.

Tanto para arquivos digitais como físicos, pode-se manter em pastas os arquivos descartados, para consulta até o final do projeto.

A partir da limpeza inicial, agrupa-se os arquivos selecionados, para facilitar sua análise. Os dados digitais podem ficar dispostos em pastas separadas de acordo com usuários entrevistados, tipos de informações, possibilidades de uso (formulários, rótulos de botões, telas, conteúdo a ser criado, banners, layouts). E os dados físicos podem ficar organizados em caixas (se forem volumosos) ou, em uma parede ou quadro branco (mais fácil de ver), por meio de imãs ou papéis com adesivo.

Visualização dos dados

Para que fiquem facilmente manipuláveis e avaliáveis, é recomendável que os dados organizados fiquem dispostos no mesmo ambiente. Caso estejam todos em formatos digitais, pode-se organizar um quadro digital online, compartilhável independentemente de onde estejam (ver exemplos de ferramentas no final da página). Mesmo assim, não é fácil a equipe toda ter uma ideia geral e simultânea do conjunto em uma tela de computador, por maior que seja, para trabalhar em conjunto.

Caso os dados estejam em formatos analógicos ou mistos (digitais e analógicos), é mais produtivo unificá-los em um ambiente único, de preferência físico, especialmente se todos os projetistas estão alocados em um mesmo ambiente. Para isto, é preciso transcrever em papel as declarações em vídeo e as anotações mais importantes, imprimir as planilhas e imagens, recortar os impressos e dispor tudo sobre um mesmo painel.

Esse repositório comum de informações em última análise reflete o desafio de design a resolver, e todos os integrantes da equipe são envolvidos.

Depois de horas de entrevistas, registros e anotações, os projetistas podem ter pistas do que é mais ou menos importante para o projeto. Assim, alguns fragmentos de informações podem ser destacados, para enfatizar as impressões e percepções valorizadas pela intuição. Mas essa priorização a rigor deve ser feita por cada um dos integrantes da equipe, no início da análise das informações.

A visualização do conjunto facilita a criação de associações entre informações que poderiam não aparecer a partir dos fragmentos isolados. Além disso, permite que o processo criativo se mantenha latente mesmo nas horas em que as pessoas estejam trabalhando individualmente, pois o quadro pode ficar situado no mesmo espaço, como um local físico de reflexão sobre o produto do projeto, atualizável à medida que o processo criativo evolui.

Diferentes pessoas ou grupos de trabalho podem adotar procedimentos diferentes para analisar pesquisas de usuários. De qualquer forma, é importante manter em perspectiva que o preparo dos dados é necessário, pois dificilmente as sínteses afloram da simples manipulação das informações. Além disso, métodos analíticos como estes facilitam a articulação de justificativas para a comunicação das conclusões aos clientes e outros agentes comprometidos com os resultados do projeto.

Avançamos no processo em Pesquisas de usuários: análise.

(Texto publicado em 27.11.2011. Atualizado em 14.1.2018)

 

Referências

Demystifying data analysis, Rachel Hinman (Adaptive Path, acesso em 27.11.2011)

Recording ethnographic observations (Palojono, acesso em 23.10.2011)

Livro: Designing for interaction – Creating innovative applications and devices, de Dan Saffer. Berkeley: New Riders, 2010

Ferramentas

  Livro: Card Sorting – Designing Usable Categories, de Donna Spencer (Rosenfeld Media.com, acesso em 27.11.2011) ou planilha para download

Cardsorting: WebSort.net (acesso em 14.7.2009)

Teste de protótipo funcional: Chalkmark (acesso em 20.2.2009) – captura de tela dos primeiros cliques nos protótipos, para a verificação de prioridades funcionais