O modelo de gestão da produção do conteúdo, ou o modelo de “gestão da gestão do conteúdo” alinha os processos e equipes de produção à linha editorial de canais digitais, para manter a consistência em diversas instâncias de produção.

Usamos a expressão “governança de conteúdo” para diferenciar o processo em relação a “gestão de conteúdo”, expressão mais associada às funcionalidades dos “sistemas de gerenciamento de conteúdo” (CMS, content management systems). “Governança de conteúdo” está associada aos processos gerenciais da produção editorial de um canal.

A produção regular de conteúdo garante a atualização e o crescimento do universo informacional de acordo com seus objetivos e reflete organicamente o diálogo do canal com o público. O caminho da produção e da publicação nos canais variam em cada organização e são definidos de modo que os agentes conheçam seu papel na cadeia de publicação e os sistemas sejam configurados para atendê-los.

Os processos internos são muitas vezes informais e acompanham as regras que cada departamento ou organização estabelece ou convenciona. No entanto, sua seleção, tratamento, distribuição, avaliação e arquivamento, convergem para objetivos comuns e devem ser planejadas. Como a demanda do público e a interlocução do veículo com seus leitores interferem nestes processos, é preciso avaliar se políticas de publicação muito rígidas podem ser ou não produtivas.

A orientação editorial estabelece, por exemplo:

O “tom” com que os textos se estruturam para o público, se formais, coloquiais, técnicos, noticiosos.

Em empresas jornalísticas, os editores seguem linhas editoriais baseadas em consenso interno estabelecido em relação ao produto principal, em relação a produtos semelhantes, e em relação aos canais de diálogo com o público. A política editorial estabelece referenciais para a transparência da apuração e da checagem dos fatos antes da publicação.

Segundo pesquisa publicada pelo Observatório da Imprensa, realizada pelo grupo de pesquisa do Departamento de Ciência da Computação da UFMG e publicada em maio de 2015:

Cerca de 70% das notícias diárias estão relacionadas a fatos que geram “sentimentos negativos” – tais como catástrofes, acidentes, doenças, crimes e crises. Os textos das manchetes foram relacionados aos sentimentos que elas despertam, numa escala de menos 5 (muito negativo) a mais 5 (muito positivo). Descobriu-se que o sucesso de uma notícia [vale dizer, o número de vezes em que é “clicada” pelo eventual leitor(a)] está fortemente vinculado a esses “sentimentos” e que os dois extremos – negativo e positivo – são os mais “clicados”. As manchetes negativas, todavia, são aquelas que atraem maior interesse dos leitores(as). (2)

Os recursos alocados para a produção editorial (equipe, tecnologias, instalações), que em uma empresa de serviços para público amplo, inclui não só um conselho editorial para avaliação e criação de estratégias como redatores, editores e coordenadores de áreas.

Requisitos de confiabilidade e adequação do conteúdo a ser publicado.

No dia 28 de novembro de 2017, Donald Trump retuitou três vídeos de veracidade ambígua. Esses vídeos apresentavam conteúdo anti-muçulmano, publicados por um líder de um grupo de extrema direita britânico. O Le Monde investigou e postou conteúdo desmentindo os vídeos, com a ajuda de contextos e informações adicionais. Essas ações fazem parte de uma política do jornal para a verificação de fatos. O jornal desenvolveu em 2015 o Décodex, um conjunto de ferramentas de comprovação de fatos públicos, lançando-o como parte da uma seção de verificação de notícias de seu site Les Décodeurs. (3)

O tamanho, formato e a estrutura dos textos, imagens, vídeos, áudios, como são titulados e subtitulados, sua vinculação aos assuntos.

O uso de terminologias e jargões, se o público é segmentado.

Em um departamento de universidade, a equipe editorial de um site pode ter apenas uma pessoa para a atualização regular. O conteúdo é produzido por uma rede de colaboradores, que fornecem informações sobre o ano letivo, notícias internas, curriculum e atividades dos professores, textos e fontes para uso em sala de aula, pesquisas realizadas e em andamento, trabalhos dos alunos.

Políticas editoriais
A Aljazeera segue uma linha editorial baseada na produção de notícias, documentários e cobertura esportiva direcionados tanto para o mundo árabe quanto para áreas do globo pouco cobertas pela mídia internacional ocidental

A estruturação e dimensionamento de gráficos, infográficos e tabelas.

Os estilos de textos para diferentes tipos de textos e expressões.

Termos de uso, a propriedade intelectual das informações.

A periodicidade de publicação, atualização e o enfoque da atualização do conteúdo interno, nas mídias sociais e aplicativos.

Formatos de publicação em diversas mídias e canais, como citado acima.

A criação e gestão de modelos (templates) de páginas e telas.

O uso de sistemas de gestão de conteúdo e recursos tecnológicos, o fluxo de trabalho entre profissionais e áreas.

O modo de interlocução com o público, os canais, o modo de retorno, o modo de uso do conteúdo gerado.

Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia divulgada em 2015, 92% dos brasileiros que usavam a internet estavam conectados por meio de redes sociais, principalmente o Facebook (83%), o Whatsapp (58%) e o Youtube (17%). E 67% buscavam notícias, mas não queriam não apenas recebê-las, queriam também compartilhar, comentar e produzir informações. Mas o estudo conclui: “Respectivamente, 71%, 69% e 67% dos entrevistados disseram confiar pouco ou nada nas notícias veiculadas nas redes sociais, blogs e sites”. (1)

Criação de parâmetros e processos de avaliação e acompanhamento.

Os responsáveis pela realização do modelo editorial e pela produção e gestão da produção de conteúdo variam em cada organização, não só de acordo com seu porte como em relação à importância estratégica do canal em relação a seus objetivos de negócio.

A produção começa a partir da definição do perfil conceitual e da estrutura de informações do conjunto de canais online usados para a distribuição de conteúdo, para evitar atrasos na edição das páginas e permitir o preparo em tempo hábil das equipes responsáveis para a periodicidade estabelecida.

A produção ou revisão do conteúdo não perecível (rapidamente desatualizado) nas fases iniciais do projeto do canal permite estabelecer referências críticas para a consolidar o layout e a arquitetura da informação.

Políticas de governança de conteúdo estão sujeitas a mudanças internas (estratégicas), a objetivos comerciais e também a mudanças externas mais amplas, relativas à estratégia de comunicação com o público. Incluem a permanente revisão e atualização de focos, de processos e de tecnologias, bem como dos agentes responsáveis por sua efetivação.

(Atualizado em 9.12.2017)

 

Referências

3) Após começo difícil, ferramenta Décodex contra fake news chega a quase 1 ano, texto do Nieman Lab (Poder360, acesso em 9.12.2017)

2) Outras razões para a pauta negativa, Venício A. de Lima (Observatório da Imprensa, dados Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 – PDF -, acesso em 23.5.2015)

1) Por que o jornalismo online ainda é pouco confiável? (Observatório da Imprensa, dados da pesquisa do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, acesso em 4.5.2015)