Estudos de George A. Miller mostram que a memória humana retém de cinco a nove (sete mais ou menos dois) coisas ao mesmo tempo. Baseiam-se no princípio que o cérebro humano tem limitações para lidar com a complexidade, e por isto tende a dividir as informações que recebe em diferentes segmentos. Este princípio pode ser considerado como referência, mas não regra, para a determinar o número de links em telas de mídias digitais.

Miller resume assim o resultado de suas observações:

“Há um limite claro e definido para a acuidade, com o qual podemos identificar absolutamente a magnitude de uma variável de estímulo unidimensional. Eu proporia chamá-lo de segmento de julgamento absoluto (span of absolute judgment) e sustento que para julgamentos unidimensionais este limite é normalmente alguma coisa na vizinhança de sete. No entanto, não ficamos completamente à mercê deste limite, porque temos uma variedade de técnicas para circunscrevê-lo e aumentar a precisão do nosso julgamento.

Os três dispositivos mais importantes para isto são: (a) fazer julgamentos relativos, ao invés de julgamentos absolutos; se isto não é viável, (b) aumentar o número de dimensões ao longo das quais o estímulo pode variar; ou (c) posicionar a tarefa de modo que façamos uma sequência com diversos julgamentos em sequência, um após o outro.” (livre tradução).

Miller deixa claro que suas conclusões não estabelecem uma regra numérica precisa, e que o universo examinado se relaciona a “estímulos unidimensionais”, ou universos circunscritos a variáveis relativizáveis, por meio do aumento de dimensões subjetivas (“julgamentos relativos”), contextos de inserção (“número de dimensões”) ou ordem de posicionamento.

Assim, no projeto da experiência de usuários em plataformas digitais, embora se possa usar o número sete como referência para a inserção de links em barras de navegações, pode-se também adaptar as três ressalvas propostas:

1) A receptividade do número de links varia de acordo com o interesse de cada usuário no assunto do site examinado. Ou seja, ao acessar um site pela primeira vez, um/a usuário/a verifica se esse atende às suas expectativas através de uma varredura rápida com os olhos sobre o conjunto de informações, que inclui layout, chamadas, títulos dos textos, rótulos dos links, imagens. Se verifica que o assunto principal o/a interessa e/ou se encontrar o que procura, tende a ficar mais tempo examinando as opções de conteúdo, e por isto se dispõe a ler uma maior quantidade de links. Caso não tenha interesse, possivelmente lerá um número menor que sete antes de procurar outro site ou aplicativo.

O interesse de cada usuário
A Folha.com (layout antigo) procura atender a um público amplo e não especializado. A barra de navegação evidencia o enfoque em atender a diversos interesses diversificados

2) O número de links se relaciona ao universo informacional no qual a estrutura está inserida. Em um contexto online, como as circunstâncias de acesso são diferentes para computadores e dispositivos móveis, o número de links para acesso fixo ou móvel é diferente, sendo que nesses últimos está relacionado aos mais acessados ou de maior importância funcional para acesso rápido.

Em um noticiário, a seção “Cidade”, na web para desktop, pode ter notícias sobre a cidade onde o veículo tem sede. Já em um dispositivo móvel, pode estar relacionada ao local onde o usuário se encontra. Nesse caso, o universo considerado varia de acordo com as condições de acesso, e o número de links leva em conta as especificidades de cada pessoa.

Em um site web ou app de varejo, o número de links, normalmente alto, não intimida os usuários acostumados a passear presencialmente nas grandes lojas de departamentos. Nesse caso, tende-se a procurar primeiro categorias mais gerais e depois as mais específicas, ou seja, os usuários fazem suas triagens de interesse enquanto navegam.

Número de links e universo informacional
A Americanas.com (layout antigo) procura atenuar a quantidade de links da barra principal com ícones temáticos, a partir dos quais se acessa submenus. Aos usuários que não sabem identificar os ícones, há um menu com todos os departamentos, no início da barra. De qualquer forma, grande número de usuários localiza produtos pela busca, que aparece com destaque no alto da página (e, maior ainda, na parte de baixo, não visível acima)

3) O encadeamento lógico entre unidades de informação pode aumentar as chances de mais links serem lidos e acessados. Se encontramos diferentes informações agrupadas por proximidade, e se conhecemos o assunto publicado, percebemos que na sequência de unidades podemos encontrar mais elementos que nos interessam. Ou seja, se os primeiros itens estão encadeados e nos interessam, tendemos a verificar se seguintes também interessam.

Já se não conhecemos o assunto publicado, não podemos avaliar se os links estão relacionados, e tendemos a selecionar o que parece atender às nossas demandas à primeira vista, antes mesmo de ler todas as opções. Neste caso, a presença de muitas opções pode atrapalhar. É o caso de sites para pesquisas escolares. Se um aluno de Ensino Médio precisa fazer um trabalho sobre cultura popular brasileira e não conhece o assunto, selecionará os primeiros links do resultado de uma busca que lhe pareçam satisfatórios. Possivelmente não chegará a ler o sétimo.

Encadeamento entre unidades de informação
O  antigo site do Teatro Municipal do Rio de Janeiro publicava 14 links em ordem mais ou menos previsível em relação à estrutura de outros sites especializados, o que facilitava a localização de cada item na lista, por encadeamento lógico.

Pesquisa realizada em 2010 mostrou que o primeiro link em uma página de resultado de busca direcionou 34,35% de todo o tráfego, quase a soma do total direcionado pelas posições de 2 a 5, e mais que o total combinado de acessos das posições de 5 a 20 (final da segunda página). (2)

Independentemente das suas conexões semânticas, o número de links deve se manter dentro de um limite que preserve a qualidade da experiência dos usuários. Não é à toa que o Google recomenda a inserção de um número máximo de links por página.

Sites com poucos links
Ao passarmos o mouse sobre o link [Discover],  descobre-se um mundo de informações: galeria online, tesouros, material de aprendizagem, conteúdo móvel e podcasts. À primeira vista, pode-se ficar em dúvida: qual a diferença entre o conteúdo de cada uma? O que diferencia os tesouros do material de aprendizagem? Uma examinada mais atenta nos textos dos links, em conjunto, provê algumas respostas.
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Em sites com poucos links, o número sete pode ser uma solução possível, mas isso não pode ser adotado como regra. O número de links varia de acordo com o tamanho do site (que exige balanço entre extensão e profundidade), de acordo com o modelo de priorização adotado (segmentação por usuários? classificação do conteúdo?), de acordo com o perfil, as preferências e motivações dos usuários, de acordo com contextos culturais mais amplos.

Para a tomada de decisões e a diminuição das incertezas e riscos sobre os tamanhos das barras de navegação, é importante inserir nos testes de usabilidade perguntas e tarefas sobre o número de links, sobre o universo informacional abordado, sobre os interesses dos usuários e os critérios de organização dos agrupamentos temáticos. Desta maneira, pode-se balancear adequadamente a quantidade de links globais e de camadas de cada página, para estabelecer agrupamentos internamente compatíveis e a atender aos interesses gerais e específicos de cada usuário e de segmentos de usuários, liberando sua memória ativa para realizar as ações a que se propõem.

(Texto publicado em 12.2.2012. Atualizado em 6.9.2015)

Referências

1) The magical number seven, plus or minus two: some limits on our capacity for processing information, George A. Miller (Musamin, acesso em 12.2.2012)

2) How much is a Google top spot worth?, Jonathan Allen (WebProNews, acesso em 12.2.2012)