A estruturação das informações para as ações dos usuários de uma mídia digital não considera apenas as características intrínsecas ao conteúdo publicado. Inclui também aspectos conceituais e editoriais que orientam o tratamento integrado das informações.

Para que usuários de diferentes interesses e objetivos se identifiquem com as informações de um canal digital é preciso que a arquitetura da informação se integre à abordagem editorial, siga linhas gerais que conduzam as diferentes circunstâncias/demandas de navegação e acesso.

Essas linhas definem se a estruturação se baseia em torno dos usuários, dos produtos, dos serviços, de atividades, de pesquisas acadêmicas, da imagem institucional, de uma área de conhecimento.

Em um site de notícias, por exemplo, é comum que as informações se organizem em torno de assuntos como “Política”, “Mundo”, “Lazer”, “Esportes”. Parte do público, acostumado a usar essas tags como referência especialmente a partir dos jornais impressos, procura as informações baseada nesta grade.

Além das convenções já consolidadas pelo uso, o público desses sites se identifica com um ou outro canal de acordo com enfoque mais popular ou mais “sério”, mais aprofundado, superficial, por tendência política, etc.. Essas linhas gerais de tratamento do conteúdo identificam cada veículo junto a seu público.

Vetores conceituais

O enfoque editorial e comercial de mídias digitais é resultado de uma soma de critérios, como:

Os objetivos principais e secundários do canal (incluindo os objetivos da organização que o publica) – O site precisa vender produtos? Precisa “vender” a imagem da empresa? Oferece serviços?

No site do Governo do Canadá, ilustrado abaixo, a abordagem conceitual/ editorial é voltada à prestação de serviços para a população.

Enfoque editorial e comercial
No exemplo acima, a organização das informações de seções focadas em serviços aos cidadãos se baseia tanto no público genérico de todos os cidadãos do país (“All Canadians”) quanto em segmentos como a população indígena (“Aboriginal peoples”), famílias e crianças, pessoas portadoras deficiências.
Se a abordagem conceitual estivesse baseada em torno dos serviços, as informações poderiam estar organizadas em torno de categorias como “Documentos”, “Seguros”, “Empregos”, por exemplo
Mas o foco nas diferentes categorias de usuário deixa claro o objetivo de facilitar a vida dos cidadãos que utilizam o site para resolver remotamente assuntos ligados à burocracia estatal em diversas instâncias institucionais
A valorização de grupos oferece nesta camada as opções de serviços mais procuradas por cada uma, de modo que não seja necessário atravessar camadas intermediárias
Também nas páginas internas, da terceira camada, a edição, o tratamento dos textos, a legibilidade dos textos, acompanham o conceito geral

Características gerais do público (sob o ponto de vista demográfico, que leva em conta dados gerais como localização, renda, gênero, idade, grau de formação dos usuários etc.). Que tipo de informação pessoas com determinadas características procuram neste site, o que diferencia as informações desse site das de outros afins?

Para isto, é importante conhecer o público e avaliar suas necessidades. Feitos estes levantamentos, é preciso cruzar estes dados com os objetivos do site.

A versão abaixo do site da Dell, por exemplo, é organizada em função das necessidades de grupos específicos de usuários e de seus equipamentos: “usuários domésticos” e “empresas”.

O enfoque editorial e comercial
Na conceituação do site da Dell (imagem abaixo), dois eixos da organização de informações estão nos usuários, segmentados em “usuários domésticos” e “empresas”.
A abordagem conceitual em torno dos produtos, está na segunda camada, como se vê no menu aberto.
A abordagem conceitual voltada para diferentes perfis deixa claro que a empresa procura facilitar a tarefa de usuários, às voltas com a tarefa de escolher instrumentos de trabalho e comunicação sem precisar fazer perguntas a um atendente presente sobre as suas características, ou sem poder tocar e testar os equipamentos pessoalmente.
A arquitetura da informação neste caso está voltada para este tipo de abordagem.

Características de ordem cultural, de coletividades com interesses específicos – o interesse por um tipo de música, ou por conteúdo, por tipos de produtos.

Sites de marcas de alta costura e de artigos de luxo são estruturados em função da venda da marca dos seus produtos para clientes que demandam tratamento diferenciado.

O enfoque editorial e comercial
Nesse caso, a organização de informações se baseia na venda da marca para clientes que procuram produtos diferenciados e indicativos de tendências. As mesmas informações são oferecidas em diferentes percursos, sob diferentes rótulos.

Características de caráter pessoal – conteúdo de acesso exclusivo, que faça com que cada pessoa seja atendida nos seus interesses pessoais.

O site da Amazon.com disponibiliza ferramentas que permitem a personalização do conteúdo, como o da página Principal com recomendações de compra baseadas nos hábitos de cada cliente, lista de itens selecionados para compras futuras (“wish list”).

Ao mesmo tempo, nesse site, ferramentas de inserção de comentários e resenhas fazem com que os leitores se sintam parte de comunidades de consumidores de produtos semelhantes.

Critérios como esses, aliados a metodologias específicas ajudam a estabelecer as diretrizes de caráter geral, tanto de ordem conceitual quanto editorial, que influenciam diretamente a topologia das informações publicadas e a navegação dos usuários, o tratamento da rotulagem dos links, a modelagem da ferramenta de busca.

Louis Rosenfeld e Peter Morville propõem alguns métodos para criar o conceito geral da arquitetura da informação:

Explorações metafóricas – usar, como modelos de organização, metáforas de serviços (como o pagamento de um imposto), ou de processos (como o preparo de uma festa para 100 pessoas), ou de imagens (como a sinalização das ruas) já consagrados pelo uso.

Assim, o usuário pode seguir o passo-a-passo já conhecido desses modelos.

Cenários – (já citados em Personas – elementos e ligações) com a simulação de usuários-personagens e de como esses podem navegar pelo site e encontrar informações de interesse, realizar buscas por palavras-chave.

Enfoques gerais como esses influenciam a criação da arquitetura da informação de cada site que, mesmo sujeita a tais condicionantes, é tem natureza criativa e é sujeita a julgamentos de ordem subjetiva.

Estes julgamentos e escolhas da equipe de projeto precisam ser testados exaustivamente, legitimados e transformados pelo uso do pelo público final – mesmo depois do lançamento, a estrutura precisa ser revisada em bases regulares e se adaptar à demanda do público.

E se adaptar também às mudanças do público, do relacionamento do site com o público, dos objetivos da organização que publica o site, fatores influenciam e atualizam sempre, o modelo conceitual e editorial do site.

* Consideramos aqui como abordagem conceitual os aspectos comerciais e relacionados às características do público-alvo do site. E como abordagem editorial os aspectos específicos ao tratamento do conteúdo para publicação.

(Atualizado em 30.10.2009)

Referências

Livro: Information architecture for the World Wide web – designing large-scale websites, de Louis Rosenfeld e Peter Morville. O’Reilly, 2003