A conceituação de um universo informacional constituído por um site isolado ou por um conjunto de veículos interligados, como site, livro, aplicativo móvel, game, filme, facilita o exame de informações em ambientes de comunicação integrados. O entendimento do contexto faz emergir não só informações com potencial para publicação como também possibilidades de relacionamentos entre as existentes, dentro de um canal, ou entre canais.

Consideramos aqui universo informacional um modelo conceitual de informações com características comuns, ou subconjuntos de informações representativos de uma totalidade. Diferente de um sistema de informações (conjunto interconectado que forma um todo estruturado), um universo informacional nem sempre permite o controle dos fluxos de informações, de energia, de comunicação entre cada um dos seus componentes.

Universo informacional
Visão conceitual do conjunto dinâmico de canais e suas unidades de informação

Um universo de informações inclui unidades relacionadas, mas também informações aparentemente desconexas, outras que aparecem casualmente, bem como informações obscuras, ou não articuláveis.

A criação de um universo informacional inclui não só tarefas de organizar e articular unidades de informações, como também de imaginar e criar conexões, com base em diversos modelos ou justificativas que obedecem às lógicas de diferentes contextos sociais, comerciais, culturais.

Considera inicialmente as informações coletadas durante a conceituação do projeto, as anotações de entrevistas com stakeholders (histórias, experiências), resultados da construção de cenários, de pesquisas de mercado, de pesquisas com usuários, do entendimento de ambientes online relacionados a buscas de palavras-chave, da análise das estatísticas de acesso. Considera as circunstâncias de acesso do público e os requisitos funcionais e comerciais de cada canal.

O universo informacional é delimitado logo no início do desenvolvimento do produto propriamente dito, para evitar confusões e mal-entendidos na equipe de projeto sobre as direções que o produto final pode tomar.

Big bang

Depois do exame conceitual, em processo colaborativo e em parte empírico de expansão de ideias, vão aparecendo, concretamente, as unidades de informações que vão estar presentes no canal ou canais projetados. Todas que ocorrem à equipe de projeto e aos patrocinadores dos produtos.

Possivelmente nesse momento aparecem muitas ideias não aproveitáveis para os produtos finais. Não importa, este é um momento em que se pode ver um quadro mais amplo, que facilita a percepção subjetiva do conjunto. Mesmo as que não forem aproveitadas em todos os produtos, podem ser importantes para a construção de uma visão geral.

Aos poucos, a partir de referenciais desenvolvidos pela equipe, vai-se procurando um modelo de representação, a partir da apropriação das lógicas e dos princípios das linguagens examinadas. O conjunto pode gerar um quadro branco cheio de papéis coloridos ou de palavras soltas, planilhas com listas de termos, ou pilhas de cartões de papel, por exemplo.

O entendimento desse conjunto ajuda a equipe de projeto a perceber as unidades mais e menos relevantes, as que se relacionam mais estreitamente com as outras e com os objetivos dos projetos, as que poderiam ser mais valorizadas e expandidas com outras, as que podem representar um diferencial e surpreender o público, as que não fariam falta se retiradas.

Em uma campanha eleitoral, o universo informacional inclui desde as informações básicas do candidato aos impressos, banners, bordões e jingles, participações em eventos, que vão chamar a atenção do público. Antes de examinar os formatos de saída das informações, como programas de TV, sites, faixas, cartazes, folhetos, participação em mídias sociais, fotos, vídeos, pesquisas, examina-se o que vai ser veiculado, que informações serão importantes para o público e para a visibilidade do candidato, como podem ser produzidas, atualizadas, multiplicadas.

Na medida em que visa ao entendimento crítico de conceitos e de suas possibilidades, menos comprometida com o público-alvo que o resultado final, a criação de um universo informacional é um processo aberto às opiniões subjetivas dos stakeholders. Sem preocupação ainda com a estrutura do conjunto e dos produtos finais, é mais comprometida com o conceito geral, e preserva alguma gratuidade e leveza, oscilando entre o pessoal, subjetivo, e consensos culturais e sociais amplos.

Um universo informacional, em seu viés midiático e transmidiático, pode incluir espaços abertos ao desenvolvimento de conteúdo pelo público, seja gerado a partir de relacionamentos interpessoais entre fãs e admiradores, seja criado para complementar os produtos projetados, para que nem a equipe de projeto possa controlar.

As histórias de Harry Potter, além de adaptadas para o cinema e representadas na internet pelos sites oficiais desenvolvidos pela Warner (geral e de cada filme), se multiplicam em milhares de sites, blogs, vídeos desenvolvidos por adolescentes. O público de fãs criou vocabulários próprios para trocar ideias sobre as histórias, escrever sobre elas, desenvolver personagens pouco explorados por J. K. Rowling, criar novas situações para as histórias. Um universo aberto a interferências e invenções.

Dependendo da natureza do produto, a inserção de espaços abertos à co-criação e à incorporação de novos produtos adaptados pelo público também precisa ser prevista. Mas como adivinhar que conteúdo pode ser reinventado pelo seguidores e admiradores? Como pensar no que não se pensou e deixar para o público a tarefa de continuar a desenvolver o produto?

A criação de conteúdo de maneira participativa, com o público, acontece em ambientes resilientes e permeáveis à apropriação amadora. Multiplica o potencial comunicacional dos produtos de comunicação e comerciais, valorizando a produção e o aprendizado coletivos – de qualquer forma, é importante que os criadores abram mão do controle total sobre seus produtos, abrindo ou permitindo abrir canais para a expressão que consolida a fidelidade do público.

Mesmo que o universo informacional tenha locais em que o controle sobre o resultado esteja em parte nas mãos dos usuários, as ações desenvolvidas durante sua criação são realizadas, acompanhadas e avaliadas tendo em vista os objetivos de sistematização de categorias (próxima etapa), para que se mantenham coerentes com o projeto e diretamente utilizáveis na sua realização.

(Texto publicado em 24.1.2017)

 

Referências

Cross cultural considerations for user interface design, Nehal Shah (Human Factors International, acesso em 24.1.2017)

Livro: Pervasive information architecture: Designing cross-channel user experiences, Andrea Resmini e Luca Rosati. Burlington, MA: Morgan Kaufmann, 2011.

Livro: Information architecture for the World Wide web – designing large-scale websites, de Louis Rosenfeld e Peter Morville. O’Reilly, 2003

Livro: Cultura da convergência, Henry Jenkins. São Paulo: Aleph Editora, 2008