No final do século 19 e início do século 20, o linguista suíço Ferdinand de Saussure formulou um modelo para descrever linguagens naturais (como o português). Seu modelo foi expandido por teóricos como Roland Barthes, que o aplicaram a sistemas de signos, como narrativas literárias, ou atividades como a culinária ou a conjuntos de objetos. Mais recentemente, autores como Lev Manovich, Andrea Resmini e Luca Rosati vêm procurando aplicar o modelo de Saussure no exame de estruturas de linguagem entre canais digitais.

Uma das contribuições mais importantes de Saussure para a semiótica foi a dimensão dos eixos sintagmáticos e paradigmáticos da descrição linguística, que podem ajudar a examinar como as unidades de informação se organizam entre mídias digitais.

Segundo o autor, sintagma é “a combinação de formas mínimas em uma unidade linguística superior”. A unidade linguística superior ocorre a partir da singularidade do signo, que impossibilita a pronúncia simultânea de dois elementos, pois um termo só passa a ter valor no momento em que contrasta com outro. De modo geral, a dimensão sintagmática se relaciona com a combinação de diferentes signos entre si, em um contexto definido.

Quando um estudante faz uma pesquisa para um trabalho acadêmico, coleta conteúdo de diversas fontes, acrescenta novas ideias e edita o conteúdo novo em uma sequência linear a partir dos fragmentos. As ações de encadeamento dos fragmentos estão relacionadas a uma dimensão sintagmática.

A dimensão sintagmática mostra um produto de linguagem presente, concreto, que tende a se articular de modo horizontal.

Já o paradigma é um “banco de reservas” da língua, formado por conjuntos de termos que encadeiam as oposições/exclusões entre as unidades linguísticas. Está relacionado aos signos de mesma natureza escolhidos para compor diferentes relações sintagmáticas.

No caso do estudante ao pesquisar na web, cada unidade de conteúdo que seleciona, entre outras, para compor sua pesquisa, mantém uma relação paradigmática com outros elementos da mesma natureza. A escolha de quais unidades, entre diversas outras, serão utilizadas está relacionada à dimensão paradigmática.

A dimensão paradigmática é abstrata, imaginária, não mostra um produto explicito, tende a se articular de modo vertical (entre unidades que têm alguma coisa em comum e se associam).

Sintagmas e paradigmas em espaços online

Em um website, a dimensão sintagmática do conjunto de informações está relacionada a todas as unidades de conteúdo editado (páginas, telas), bem como ao modo como as unidades se articulam entre áreas (links, agrupamentos) ou em uma mesma área. E a dimensão paradigmática se refere a todas as áreas e unidades de informações que estão publicadas e as que poderiam ser publicadas.

Sintagmas e paradigmas em espaços online
A narrativa de cada usuário em um website é um processo linear e subjetivo, que acontece na dimensão sintagmática da descrição linguística específica de canais online
mapa_eixos_ortogonais

Mas no modo como as narrativas online se articulam, há uma diferença em relação a outros sistemas de signos, como a língua corrente, por exemplo. As narrativas construídas pela navegação de cada usuário em mídias digitais têm componentes que reorganizam suas dimensões sintagmática e paradigmática.

Compostas por fragmentos acessados durante o deslocamento dos usuários, com o acesso a links, botões, textos, imagens, vídeos, áudios (sintagmas), as narrativas, para os usuários online, não são articuladas materialmente, existem como construção interna. Ou seja, a dimensão sintagmática, neste caso, em vez de gerar um produto concreto, gera um produto abstrato.

Também para os projetistas de sites, as narrativas online são compostas por conjuntos de links, ordenações das unidades de informação, modos de agrupamento e relacionamento entre elas a partir da visão geral de cada produto. Essas narrativas não existem concretamente, não podem ser vistas. Também para eles a dimensão sintagmática, horizontal, é abstrata, imaterial.

Por outro lado, em uma tela pode-se ver links que dirigem o usuário para outras telas. O conjunto desses fragmentos de informações, caminhos possíveis para compor uma unidade linguística, forma um paradigma (“banco de reservas” de informações potencialmente acessáveis). O mesmo acontece em relação ao conjunto de telas ou páginas que compõem um site, os usuários sabem que seguem apenas alguns caminhos disponíveis, ou seja, fazem escolhas a partir do paradigma.

Os textos de um site, suas imagens, vídeos, áudios, têm existência real, pertencem a um mesmo universo, estão arquivados no mesmo servidor e todos poderiam ser acessados pelos usuários e fazer parte da sua narrativa. Por isto, nesse caso a dimensão paradigmática, vertical, apesar de virtual, não é imaginária como acontece na articulação de um discurso textual (em que as opções existem como termos possíveis a serem selecionados para compor um discurso). No mundo digital, as unidades de informação são reais.

Assim, em ambientes online, a dimensão sintagmática gera produtos abstratos (as narrativas dos usuários), enquanto a dimensão paradigmática se baseia em unidades de informação concretas (as unidades de informação e de uso que compõem as mídias).

Na elaboração de modelos conceituais de mídias digitais, pode-se usar as dimensões horizontal e vertical, sintagmática e paradigmática, como referências para o projeto de diferentes produtos, em diferentes mídias, para diferentes tratamentos de conteúdo.

(Texto publicado em 15.4.2012. Atualizado em 6.5.2012)

Referências

Livro: Pervasive information architecture: Designing cross-channel user experiences, de Andrea Resmini e Luca Rosati. Burlington, MA: Morgan Kaufmann, 2011.

Texto Banco de dados como forma simbólica, de Lev Manovich, em Database Aesthetics – Art in the Age of Information Overflow, organizado por Victoria Vesna. Mineapolis – London: University of Minnesota Press, 2007

Texto Ocean, Database, Recut, de Grahame Weinbren, em Database aesthetics – Art in the age of information overflow, organizado por Victoria Vesna. Mineapolis – London: University of Minnesota Press, 2007

Experience themes, de Cindy Chastain (Boxes and Arrows, 6.10.2009, acesso em 27.10.2009)