O percurso dos usuários de mídias (digitais ou não) pode ser examinado sob uma perspectiva “gráfica”, segundo eixos verticais e horizontais, que balizam os relacionamentos de informações, sua contextualização e sua temporalidade para compor narrativas subjetivas. De acordo com Luca Rosati e Andrea Resmini (1), pode-se somar um terceiro eixo, um eixo diagonal, que estrutura o contexto midiático do percurso do usuário.

Os eixos horizontais e verticais dos relacionamentos entre informações estão relacionados à proposição de sintagmas e paradigmas da descrição linguística, propostos por Ferdinand de Saussure, que podem orientar o exame da organização das unidades de informação entre canais midiáticos.

Esses canais, como produtos destinados à comunicação e à interlocução, costumam se relacionar com outros canais e fontes de informação. Um site pode se relacionar a um livro, a um filme, a um evento, a uma loja presencial, a um local (museu, cidade), a uma instituição. Sua organização é condicionada não só pelo conteúdo internamente articulado, como também pelas configurações do seu ambiente informacional, cultural, comercial.

Na maioria dos casos, um canal existe “em relação a”, ou seja, em contextos de relacionamentos dinâmicos não só entre pessoas e entidades como também entre informações. E a perspectiva desses relacionamentos condiciona a forma com que são concebidos.

Quando, por exemplo, o usuário do site de uma exposição de arte navega entre as páginas de apresentação da exposição, dos trabalhos expostos e consulta páginas com textos de referência sobre os trabalhos, sua percepção remete à exposição em si, que ele/a pode ter visitado, vir a visitar, ou não. O website se relaciona ao ambiente da exposição, e este relacionamento se explicita seja através da organização espacial dos trabalhos (para os visitantes presenciais), do conteúdo da apresentação, das referências, seja através da sua identidade visual, seja através dos agrupamentos de informações.

Narrativas interativas: eixo diagonal
O ambiente de articulação da narrativa dos usuários em diversas canais (cross-channel) potencializa a construção de sentidos e relacionamentos através de uma arquitetura da informação mais abrangente que a restrita a web sites e portais

O percurso do usuário deste site se atualiza quando este vai visitar a exposição de arte e, nos seus deslocamentos pelas salas e trabalhos, estabelece novos relacionamentos com os trabalhos expostos, que podem convergir e se somar aos do website, mesmo que em camadas de leitura e percepção diferentes.

E mais adiante, quando/se este usuário/espectador se torna também consumidor e adquire um livro sobre a exposição, estabelece um novo laço com este contexto informacional, que soma então três perspectivas diferentes, a do website, a da exposição, a do livro. O que cada uma tem que a outra não tem? O que todas têm, mesmo redundante, e não podem deixar de ter? O que contribui e reforça a experiência de uso/visita/leitura entre as informações?

Dentro de uma perspectiva bidimensional do conjunto de informações, a dimensão horizontal (sintagmática) está relacionada às unidades de conteúdo (páginas, telas), bem como ao modo como as unidades se articulam entre áreas (links, agrupamentos) e em uma mesma área. A dimensão vertical (paradigmática) se refere às unidades de informações publicadas.

Segundo este modelo, a narrativa que o usuário articula entre diversos canais (site, exposição e livro, por exemplo) se constitui linearmente (mesmo que em tempos diferentes) segundo o eixo horizontal. Esta narrativa é composta pelas diversas unidades de informação, conteúdo, conexão, alinhadas segundo o eixo vertical. As duas dimensões estão relacionadas e se alimentam mutuamente.

Com o acréscimo de um terceiro eixo, um eixo diagonal, disposto ortogonalmente em relação aos outros dois (numa visão tridimensional), não é a dimensão dos suportes (formatos, mídias) que se impõe, mas a dimensão de uma articulação conceitual geral, seguindo as características de cada linguagem, para a construção de significado. Este eixo define a dimensão de uma arquitetura da informação que procura padrões entre canais, avalia e seleciona o que funciona melhor em cada um. E costura um ambiente em que todas as unidades são integradas.

A arquitetura da informação entre canais cruzados, representada pelo eixo diagonal, tem em perspectiva a configuração de um contexto amplo de relacionamentos em diversos formatos, em que cada usuário cria uma narrativa pessoal e inventa percursos/relacionamentos potencializados pelas tensões entre diferentes opções de informações.

Assim, o eixo diagonal da arquitetura da informação de canais cruzados é uma imagem utilizável para representar conceitualmente um ambiente de múltiplos canais midiáticos, de modo a prover uma experiência integrada que leva em consideração as características estratégicas, linguísticas, funcionais, comerciais, expressivas de cada um dos canais em um contexto de sentidos integrados.

(Texto publicado em 6.5.2012)

Referências

1) Livro: Pervasive information architecture: Designing cross-channel user experiences, de Andrea Resmini e Luca Rosati. Burlington, MA: Morgan Kaufmann, 2011.

Texto Banco de dados como forma simbólica, de Lev Manovich, em Database Aesthetics – Art in the Age of Information Overflow, organizado por Victoria Vesna. Mineapolis – London: University of Minnesota Press, 2007.

Texto Ocean, Database, Recut, de Grahame Weinbren, em Database aesthetics – Art in the age of information overflow, organizado por Victoria Vesna. Mineapolis – London: University of Minnesota Press, 2007