Os objetivos da qualidade de um projeto documentam as características necessárias a seu produto e os métodos para sua avaliação. Incluem tanto aspectos genéricos, comuns a qualquer projeto da mesma organização (relacionados à sua política de qualidade) quanto aspectos específicos a cada produto, como os descritos na proposta de trabalho, na declaração de escopo ou na Estrutura Analítica do Projeto, por exemplo.
Processos dos objetivos da qualidade de produtos web:
■ Identificação dos tipos de requisitos de ordem geral a priorizar, segundo os quais o produto será avaliado. Há diversos tipos de requisitos aplicáveis a projetos web, como:
■ Arquitetura da informação, verificação dos fluxos de navegação e dos fluxos de dados de acordo com as ações dos usuários, verificação de links
■ Layout, adequação ao público-alvo, limpeza, responsividade
■ Acessibilidade
■ Usabilidade, com a realização de testes
■ Funcionalidade da interface
■ Conteúdo e edição, verificado pelos autores e conteudistas
■ SEO – preparo para indexação por buscadores
■ Suporte ao usuário, verificação e correção de falhas funcionais e erros de projeto
■ Segurança e estabilidade de sistemas
■ Valor para os usuários – características do produto web que levam à percepção de valor pelos usuários, realização de testes A/B, para verificar se as melhores opções foram selecionadas
Na seleção dos objetivos da qualidade, não é preciso priorizar tantos tipos de requisitos de qualidade como os citados acima, mas apenas os mais relevantes para o produto. Os requisitos genéricos devem ser usados em avaliações de rotina dos produtos da mesma natureza desenvolvidos pela mesma organização.
■ Descrição dos requisitos prioritários a avaliar. Desdobramentos dos tipos de requisitos citados acima, os requisitos prioritários podem ser, por exemplo, o tempo necessário para realizar o projeto ou cada etapa, a funcionalidade da ferramenta de comércio, a facilidade de acesso a atendimento online personalizado a qualquer hora, a capacidade do servidor web de atender a um número de acessos/ transações simultâneas ou de resistir a ataques.
A seleção desses requisitos toma como base as prioridades do cliente e do usuário final. Embora cada projeto tenha prioridades específicas, os requisitos podem ser identificados com o auxílio de legislações, regulamentos, políticas internas de qualidade, normas e padrões de alcance mais ou menos genérico.
Alguns padrões que podem balizar a seleção de requisitos de qualidade em projetos de websites:
■ Gestão da qualidade: ISO 9000 – Aplicável em organizações com sistemas de gestão da qualidade para obter vantagens competitivas, como a confiança no atendimento de requisitos pelos fornecedores. Contempla os usuários finais do produto, bem como auditores/assessores internos ou externos à organização relacionados ao sistema de gestão da qualidade.
■ Atividades centradas em torno dos usuários: ISO 13407 – Aplicável a diferentes tipos de desenvolvimento, em cascata ou em ciclos iterativos (sprints).
■ Compatibilidade do código com os padrões web (XHTML, CSS, doctype): Standards, W3C – Padrões que recomendam a separação no código do conteúdo e do layout. Avaliável pelo Serviço de validação da marcação do W3C.
■ Usabilidade: ISO/IEC 9126-1, Engenharia do Software – Qualidade do produto e modelos; usabilidade da página Principal (Top ten guidelines for home page usability, Jakob Nielsen) e das páginas internas; Conselho Nacional de Arquivos – diretrizes gerais para a construção de websites de instituições arquivísticas; Governo dos EUA – Usability basics (não mais disponível no endereço acessado).
■ Acessibilidade (marcações de imagens, formulários, fontes e menus, uso de cores, compatibilidade com browsers e equipamentos): eMAG (Recomendações de Acessibilidade para a Construção e Adaptação de Conteúdos do Governo Eletrônico na internet); Padrões e recomendações de acessibilidade da BBC.
■ Portabilidade (manutenção da estrutura do site em diversas plataformas, sistemas operacionais, browsers, resoluções de tela): testes em situações de uso controlado.
■ Segurança: conteúdo e os dados dos usuários sem risco de perda, violação de privacidade, contaminação por código malicioso.
■ Aquisição de sistemas: ISO/ IEC 12207 – processos, atividades e tarefas que balizam atividades relacionadas ao fornecimento, desenvolvimento, operação e manutenção de produtos de software. Devem ser adaptados para cada organização e projeto.
■ Conteúdo publicado: Conteúdo de qualidade, sempre atualizado, facilmente indexável pelas ferramentas de buscas, é um diferencial cada vez mais importante. As linhas mestras do Google ajudam a produção de conteúdo
Segundo o Chaos Report, 56% dos erros encontrados depois da entrega do produto de um projeto têm origem na fase de identificação dos requisitos.
■ Estabelecimento das métricas de qualidade para os requisitos: descrições funcionais do que se espera para o produto e suas formas de aferição. O percentual de características avaliadas em testes (de usabilidade, funcionalidade, compatibilidade, aderência a padrões web, tempo de carregação das páginas, acessibilidade) constituem métricas a considerar em projetos de ambientes web.
► Exemplos de métricas de qualidade: A quantidade de defeitos aceitáveis para que o site seja lançado; o percentual de requisitos prioritários de qualidade (de cada tipo) aos quais o produto atende; o grau de acertividade de cinco usuários representativos do público-alvo na realização de tarefas prioritárias para realizar os objetivos do site.
■ Estabelecimento dos critérios para a aceitação do produto a partir da avaliação dos requisitos e métricas. Ponto-limite do desenvolvimento em que o produto pode ser considerado pronto para o lançamento. Em que momento os requisitos estão aceitáveis e o site pode ser lançado? Que páginas, funcionalidades, qualidades devem estar presentes? Quais podem ser desenvolvidos depois do lançamento sem comprometer os objetivos e expectativas dos usuários?
■ Estabelecimento de métodos para verificar a aceitação dos requisitos. No caso da certificação em testes pode-se submeter o site a instituições certificadoras. A realização de testes de usabilidade e de funcionalidade pela equipe de projeto também pode homologar o site para lançamento.
■ (Caso os principais itens não estejam contemplados acima) Elaboração de lista de checagem da qualidade do produto. Qual o número de templates solicitado para a implementação de um sistema de gerenciamento de conteúdo? Cada template tem um layout claramente diferenciado, que caracterize a diferença de conteúdo? Pode-se acrescentar “Links relacionados” do mesmo site a cada página? A área de Notícias tem um histórico que os usuários podem consultar para ver as notícias antigas? A acessibilidade e a compatibilidade com padrões web foi verificada? Qual o tempo médio de carregação das páginas?
No caso de aplicação de métodos ágeis para a gestão do projeto, os registros dos objetivos da qualidade se aplicam a cada iteração e não a todo o ciclo de produção do projeto. Os requisitos se aplicam aos aspectos prioritários e os documentos resultados são simplificados e podem até ser descartados na medida em que as avaliações são realizadas e os critérios de aceitação de cada uma alcançados.
É importante observar que os objetivos da qualidade devem conter apenas os itens prioritários para cada projeto, baseado em seu valor para a realização dos objetivos do projeto. Dependendo do escopo do projeto, não se deve dispensar a realização de avaliações heurísticas mais exaustivas, com o uso de listas de checagem selecionadas, como as citadas acima.
(Publicado em 4.7.2010. Atualizado em 13.8.2014)
Referências
→ Accessibility Standards and Guidelines, BBC (acesso em 5.4.2015)
→ Screen Reader Testing Guidelines, BBC (acesso em 5.4.2015)
→ Mobile Accessibility Standards and Guidelines v1.0, BBC (acesso em 5.4.2015)
→ US Digital Services Playbook (acesso em 13.8.2014)
→ Livro: Metodologia de gerenciamento de projetos – Methodware, de Carlos Magno Xavier e outros autores.
→ eMAG – Modelo de Acessibilidade de Governo Eletrônico do Brasil (link direto para documento zipado, no site do Governo Eletrônico)
→ Cartilha de usabilidade para sítios e portais do Governo Federal, editada pelo Comitê-Técnico de Gestão de Sítios e Serviços On-line do Governo Eletrônico
→ Regras e diretrizes para os sítios na internet da Administração Pública Federal
→ Padrões Brasil e-Gov recomendações para codificação de páginas, sítios e portais (PDF, Governo Eletrônico)
→ Governo dos Estados Unidos – Usability basics, não mais disponível no endereço acessado
→ Stanford guidelines for web credibility (acesso em 5.4.2008)