A estratégia de negócios de uma marca, um produto, um serviço, uma interface, valoriza a experiência do público em cada um dos seus pontos de contato. Nos negócios que se apoiam em canais online, diferentes aspectos se somam para prover experiências que ajudem a ter significado e pregnância para quem as vive, sendo pensadas desde a conceituação e o entendiento de seus objetivos, a arquitetura da informação, o design da interface, o desempenho técnico, até o lançamento e seu permanente aperfeiçoamento.

“A experiência do usuário é composta de todas as interações que uma pessoa tem com sua marca, companhia ou organização. Isto pode incluir interações com seu programa, website, call-center, um anúncio, um adesivo no computador de outra pessoa, um aplicativo móvel, sua conta do Twitter, seu email, e um encontro face a face. A soma do conjunto de interações ao longo do tempo é a experiência do usuário”, define Joshua Brewer (2)

Segundo o designer Eston Bond, editor do site Socialluxe, “não há um elemento-chave para traduzir a ideia de um aplicativo em alguma coisa compreensível para o investidor ou para a base de usuários; é o design do PRODUTO – a interrelação entre estética, edição, complexidade da interface e latência perceptiva, conceituação básica e funcionalidade de elementos intangíveis que desafiam qualquer melhor descrição – que definimos como ‘experiência do usuário’ que realmente assinala a proposta do aplicativo.” (1)

Pode-se somar à observação de Bond que também o modo como uma organização que publica mídias digitais ou oferece serviços online e offline realiza seus processos de negócios, desenvolve seus projetos, produtos e se relaciona com clientes e parceiros compõe o conjunto contextual que acompanha a experiência do usuário. O design de produtos que considera a estratégia de negócios produz experiências de uso que são significativas para os usuários, além de equilibrar os resultados com a realidade de tempo e orçamento. Como o comprador de uma comida diferenciada pode sentir na comida entregue em casa o mesmo prazer que sente num restaurante? Como produtos orgânicos produzidos por pequenos agricultores podem ser priorizados por um público urbano acostumado à exuberância dos produtos cultivados com agrotóxicos? Como monitorar os deslocamentos físicos de uma pessoa sem ser intrusivo?

Nem sempre as interfaces digitais se mostram fáceis de usar e oferecem exeperiências importantes e significativas para seus usuários. Muitas mostram falhas operacionais e de funcionalidade, como:

Demasiada ênfase nos aspectos tecnológicos em detrimento dos aspectos humanos – afetivos, culturais, conceituais, editoriais, funcionais, afetivos, diretamente relacionados aos usuários e seus contextos de uso.

Novos usuários da internet nem sempre têm modelos mentais adaptados a tecnologias digitais e as interfaces muitas vezes não levam isto em conta – fator especialmente crítico no Brasil, onde muitos novos usuários de computadores e da internet usam apenas o celular.

 Desenvolvimento segmentado, em que a equipe de projeto não tem uma visão holística do público, do produto, do produto em seu ambiente amplo (de outras interfaces e dispositivos da mesma natureza). Quando os colaboradores responsáveis pela pesquisa de público e de mercado não conversam com os responsáveis pela programação da interface, ou quando a equipe de suporte não conversa com os gestores da mídia digital, é provável que ocorram também problemas de comunicação com os usuários finais.

Funcionalidade da interface e experiência de uso que atendem mais às demandas dos gerentes e dos diretores das organizações do que do público (incluindo as configurações dos seus PCs e celulares). O produto pode ficar muito bonita na ampla tela de PC em um escritório de empresa de alta tecnologia, mas não permite que o usuário encontre o que procura, não reage de maneira consistente a ações da mesma natureza e aparece desestruturada na tela de uma lan-house em um vilarejo no interior da Amazônia.

 Prazos (e orçamentos) de projeto tão apertados que não há tempo para pesquisas de mercado, testes de usabilidade e reuniões entre os integrantes da equipe de projeto, muito menos para controle de qualidade que garanta a eficiência do produto depois do lançamento.

Problemas como estes podem ser evitados desde as etapas inicias do projeto quando a equipe de projeto se direciona para:

Atender necessidades legítimas dos usuários e das suas ações durante o uso. O conhecimento, pela equipe de projeto, do perfil do usuário médio, de suas características, seus interesses gerais e específicos, desde as etapas iniciais do projeto, ajuda a centrar o projeto no público que acessa um produto ou serviço. Testes e workshops realizados regularmente mantém o interesse dos desenvolvedores, equipe editorial e de marketing no aperfeiçoamento contínuo do produto

Medir e testar empiricamente o uso do produto. É importante realizar testes intensamente desde a pesquisa de mercado e a estruturação do produto. A partir da observação do uso do site pelos usuários em diferentes ambientes online e offline, pode-se entender em detalhe as suas ações e preferências, traçar seus perfis com mais precisão e adaptar o veículo a cada dia para a demanda. Assim pode-se configurar componentes funcionais da interface que garantam a aderência do produto aos seus objetivos.

Por exemplo, se os usuários não estão chegando às camadas mais profundas de informações, testes presenciais de usabilidade ajudam a apontar os motivos, se está havendo problema no sistema de navegação ou em relação aos rótulos dos links.

Estabelecer processos multidisciplinares de ação – há muitos fatores a considerar no desenho de interfaces online e a complementaridade de diferentes profissionais, com formações (edição, marketing, design, usabilidade, arquitetura da informação etc) e percepções diferentes, se somam como competências necessárias ao projeto.

Aperfeiçoar o produto continuamente a partir de testes, pesquisas, estatísticas e de processos iterativos de desenvolvimento – O aperfeiçoamento começa na realização do projeto e em condições ideais, se mantém depois do lançamento. É importante entender que interfaces que atendam a todos os tipos de públicos são praticamente impossíveis de desenvolver. Se atendem plenamente a segmentos bem definidos podem ser mais úteis e eficientes tanto para os usuários quanto para a consolidação da marca.

Empresas B2C como Amazon, Apple, Google, Uber, buscam continuamente a excelência na relação direta com seu público final, que por sua vez se mostra cada vez mais exigente e sofisticado em suas demandas. A experiência bem sucedida no chamado de um táxi, por exemplo, gera expectativas de outras experiências bem sucedidas para outros serviços (compras, transações bancárias, mensagens) e interfaces. Quando as expectativas dos clientes são atendidas, os custos do atendimento tendem a baixar, e o grau de lealdade com o produto a aumentar, bem como as chances de atração de novos clientes. A visão completa dessas necessidades e expectativas é uma premissa básica para o aperfeiçoamento contínuo da experiência do usuário.

(Texto publicado em 14.9.2008. Atualizado em 22.5.2016)

Referências

Why the customer experience matters, entrevista de Bill Javetski a Harald Fanderl e Nicolas (McKinsey, acesso em 22.5.2016)

5 Signs of a great user experience, Richard MacManus (ReadWriteWeb, acesso em 31.1.2012)

The psychologist’s view of UX design, Susan Weinschenk (UX Magazine, acesso em 20.11.2011)

1) Design for startups: The aesthetics of web apps in 6 questions, Jolie O’Dell (ReadWriteStart, acesso em 13.9.2009, não mais disponível no endereço acessado)

Livro: Handbook of Usability Testing – How to plan, design and conduct effective tests,de Jeffrey Rubin. New York: Wiley, 1994.

The past and future of experience design – What a difference 10 years make (Boxes and Arrows, acesso em 30.7.2012)

Global Experience Language (BBC – Gel, acesso em 1.12.2011)

Livro: Storytelling for user experience – crafting stories for better design, de Whitney Quesenbery e Kevin Brooks. New York: Rosenfeld Media, 2010

Printed books on user experience free to read online (The UX Bookmark, acesso em 5.5.2010)

Where emotional design fails, Donald Norman (jnd.org, acesso em 20.3.2010)

Google user experience (Google – Corporate information, acesso em 1.12.2009)

The experience imperative: a manifesto for industrial designers, Ken Fry (Core77, acesso em 1.12.2009)

Livro: Designing interactions, Bill Moggridge, com a descrição de casos em que o projeto da experiência do usuário é um processo prioritário na criação de produtos

Pleasure and pain, blog de Whitney Hess, sobre o projeto da experiência dos usuários

UXMatters, revista online com estratégias de experiência do usuário